terça-feira, 17 de julho de 2012

Ponto de vista: Vidro e Baunilha


     Eu era uma criança de olhos distantes. Sempre ingênua demais. Todos os sonhos de vidro e baunilha eu tinha. Distraída demais com meus amigos imaginários para perceber que não tinha amigos, e nunca entendi por que não gostavam de mim. Tentava ignorar e continuar sonhando com um balanço enfeitado com flores silvestres, um príncipe de branco, um castelo e algodão-doce para o jantar.
     Mas um dia percebi que isso não tornava as coisas mais fáceis. Aos poucos minha pureza branca e rosa deu lugar a cores vorazes da convivência em grupo. Conheci o temor, a raiva, decepção. Tive que crescer e a carapaça que eu não tinha antes devido a preservação do meu estado límpido de nascença foi engrossando e tornando-se em couro furta-cor.
     Assim fica mais fácil de se proteger, e ainda minhas cores tornam-me diferente na multidão, sinalizando a quem interessar que eu não sou como os outros. 

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