Eu estava lá. Linda e serelepe. De repente olhei para a minha direita e você estava. Fiquei atônita quando vi seu rosto, achei que fosse, sei lá, visagem. Mas tão próximo a mim... Não sabia o que fazer. Apenas olhei você, olhei o lado direito do seu rosto de pele morena e barba levemente crescida. Você olhava para meus amigos (que sei ser seus também).
Aí olhou pra mim. Um grande sorriso no rosto. Não sabia
decifrar você: estava realmente contente por me ver ou apenas forçando um
contato.
Agora me lembro de algo que me disse uma vez, sobre sua
época de solteiro: sempre que quer chamar a atenção de uma garota vá primeiro
falar com a amiga dela. “Sempre funciona”, disse-me. Pois o sempre sempre
acaba. Mas foi uma boa tentativa para me dar tempo de fechar a boca escancarada
de espanto.
Aí veio conversar comigo. Naquela hora percebi que ainda
estava ouvindo música em meus fones de ouvido. Pausei a música para ouvi-lo
melhor. Aos poucos as pessoas foram se afastando. Estava óbvio que ele queria
falar só comigo. Parecia bem. Sorria muito e estava muito interessado na minha
vida. Queria saber o que eu andava fazendo, das minhas novidades, meninos que
eu tinha ficado.Essa última pergunta achei estranha, lembro-me claramente que
havia me pedido para não contar nada sobre outros caras, que você ao suportaria
me imaginar com outros. Respondi com sinceridade , algo que se tornou quase
cortante em minha personalidade depois do término.
Perguntei sobre ele também. Sei que se mudou, mora com um
amigo em um bairro agradável do Rio, está no meio de uma tatuagem, fazendo
publicidade (seu grande sonho) e está esperando o resultado da prova de
transferência para a UFRJ.
Alguns minutos depois meu amigo veio me chamar para almoçar,
que insistiu tanto que você nos acompanhou até a lanchonete. E não sei se isso
de imediato me agradou ou não. Enfim, ele estava ao meu lado. Ao atravessar a
rua me disse “cuidado” e me conduziu levemente pela cintura. Há muito não
sentia mãos confiantes em mim. A sensação de imediato era boa, mas ao pensar
sobre o ato novamente não sabia minha opinião sobre.
Subimos a passarela para atravessar a linha do trem. Lá em
cima você disse que iria de trem e eu agradeci a Deus por poder ter tempo pra
pensar depois que descesse aquelas rampas. Foi lá, com sua voz levemente rouca que
disse que havia tido seu tempo, e que estava pronto. Aquilo era mais que o
suficiente para eu compreender que estava esperando para ter o quarto dedo da
mão direita ocupado novamente. Eu disse que conversaríamos. Com mais um sorriso
me despedi. Naquela hora ouvi tocar More than words – Extreme na estação da
Supervia. Aquilo era golpe baixo. Fui andando e você me chamou, com um sorriso
nostálgico perguntou “ você tem dinheiro pro lanche?” Me lembrei de quando
pagava meu almoço, sob papel do ótimo namorado. Eu ri sinceramente e disse que
sim. Gostei de me sentir independente, demais.
Desci a rampa e fui comer, com meu amigo e outra colega que
nos encontrou no caminho. Almoçamos e batemos papo. Queria mesmo era parar pra
digerir o que estava acontecendo, e não o meu baratíssimo de frango. Quando
fomos embora e me separei deles fiquei aliviada. Peguei meu telefone e pus na
música que estava tocando antes de pausar. Era Sweet nothing – Florence and the
machine. Aquela música fez crescer algo, uma necessidade de... correr. Saí
subindo a rampa da passarela a toda velocidade. Aquilo me fez muito bem. Eu só
não sabia se corria pra você ou de você, mas correr foi-me ótimo.
Quando cheguei na escola estava cansada, afobada. Depois de
um tempo acabei indo ao banheiro com umas amigas. Contei a elas, que estavam
convencidas de que nós voltaríamos. Disse que tinha que pensar seriamente.
Antes do que eu pensava a resposta me veio como um baque:Não, não quero isso
agora. Em três meses eu mudei muito, não era mais a mesma, estava aprendendo a
viver sem alguém do meu lado, e estava gostando. Estava doendo bastante, mas
como crescer dói os ossos, mudar dói o coração. E é melhor do que ficar
estagnada, do mesmo tamanho.
O horário da aula chegou e elas se foram. Fiquei lá. E
chorei.
Chorei não sei bem por que. Sentia que se não ficasse com
você agora não poderia ficar mais. E aquele medo de ficar sozinha me veio. Era
muito ruim.. Um vazio profundo. Mas não me permiti passar por isso. Eu não
tinha mais medo disso. E eu decidi. Eu não queria voltar. Não agora. Talvez um
dia... Mas não hoje. Preciso aprender a ficar só, e eu gosto de aprender. E foi assim. Eu decidi que rumo tomar. A
decisão foi forte e a senti tomar conta de mim, me preencher. Segurança.. É
assim que é? Acho que irei descobrir.
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